quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Referência bibliográfica:

SÁ, Cristina Manuela, MARTINS, Maria da Esperança e MESQUITA, Luciana (2009). Refazer o caminho do laboratório à sala de aula: leituras solidárias e colaborativas. In Ana Isabel Andrade e Ângela Espinha (org.), Línguas e Educação: uma comunidade de desenvolvimento profissional em construção? Livro de resumos. (pp. 41-43). Aveiro: Universidade de Aveiro/Departamento de Didáctica e Tecnologia Educativa.

Texto publicado:

Refazer o caminho do laboratório à sala de aula: leituras solidárias e colaborativas

Dentre os espaços comuns surgidos no desenvolvimento dos trabalhos que ora apresentamos, destaca-se a concepção da leitura como um processo contínuo que não se esgota temporalmente no momento em que se domina a decifração, essencialmente dependente do reconhecimento das relações grafema-fonema.
Saber ler é, para além disso, ser capaz de construir conhecimento a partir de um processo interactivo, que implica o leitor (com os seus conhecimentos, decorrentes das suas vivências, entre as quais figuram o seu contacto com a leitura e as suas leituras), o texto (que actualiza um certo tipo de informação) e, implicitamente, um autor (construtor do texto por cuja re-construção e co-construção o leitor é responsável).
No mesmo sentido, entendemos o acto de ler como uma acção que não se esgota necessariamente no momento em que se fecha um livro ou é terminada uma aula: pode estender-se para além de ocasiões singulares como essas e abraçar o processo de formação integral do sujeito, interpelando as suas concepções sobre si próprio e o mundo e permitindo, portanto, a reconstrução das mesmas.
No âmbito de uma reflexão conjunta sobre a abordagem didáctica da compreensão na leitura – contemplando aspectos teóricos e práticos e associada à selecção, implementação e avaliação de estratégias e recursos orientados, quer para a motivação para a leitura, quer para o desenvolvimento de competências em compreensão na leitura, domínios em que centrámos o trabalho desenvolvido no âmbito deste grupo, tivemos a oportunidade de discutir o papel da leitura na formação do indivíduo, tendo em conta a sua realização pessoal e a sua integração social.
Esta reflexão levou à tomada de consciência:
- da relação entre estratégias do leitor – em acção no exercício da compreensão na leitura – e estratégias didácticas de abordagem da leitura – em acção no processo de ensino/aprendizagem responsável pelo desenvolvimento de competências em compreensão na leitura;
- da importância da sua articulação.
Cientes dos desafios que estas visões edificadas sobre a leitura impõem ao nosso trabalho enquanto professores, formadores e investigadores em educação em línguas, não nos isentamos de reflectir sobre as nossas práticas – de docência, de formação e de investigação – ligadas ao ensino da leitura e de, nesse processo, as questionar e problematizar, a fim de encontrar fundamentos para, a partir delas, construir novas práticas.
Também nesse processo, estabelecemos um diálogo de aproximações, no seio do qual construímos uma noção mais clara de transversalidade, cuja incidência não se restringe aos diferentes níveis de escolaridade e contextos em que actuamos, mas também – e especialmente – à colaboração estabelecida entre ensino, investigação e formação que tentámos concretizar.
Apostámos, pois, na conjunção destas três áreas de actuação como uma relação que transcende a conhecida dicotomia teoria versus prática, na busca de uma conjunção de conhecimentos e competências de índole educativa produzidos em diferentes contextos.
Os reflexos desta relação fazem-se sentir nos três projectos desenvolvidos pelo grupo, que têm a sua atenção voltada para:
- a formação dos alunos associada à renovação das práticas dos professores;
- a forma como professores/formadores/investigadores vivem a educação em línguas, tendo em conta a conjugação destas diferentes valências em cada um de nós;
- o redimensionamento da relação teoria-prática, levando à teorização sobre as práticas e à “practicização” da teoria.
Tendo, portanto, eleito o terreno da sala de aula como local de partida dos planos de trabalho elaborados, abraçámos a investigação-acção e os seus pressupostos activos, reflexivos e interventivos como uma metodologia de trabalho.
Acreditamos que esta escolha tenha efectivamente promovido a interacção dos diferentes conhecimentos e competências em educação em línguas aportados neste grupo de trabalho, permitindo uma observação de resultados mais concretos da nossa colaboração, sejam eles o esboço de resolução para problemas reais – o pouco envolvimento dos alunos nas leituras que lhes são propostas na escola – ou simplesmente a ilustração de situações em que as práticas de investigadores, formadores e professores não se apresentam como actos divorciados e se conjugam em cada indivíduo.
É de se ressaltar também que o recurso à investigação-acção, ultrapassando a dimensão metodológica, procurou o desenvolvimento de uma postura pessoal e profissional que a converte num instrumento de reflexão, deixando em evidência a propriedade formativa e investigativa envolvida no processo sistemático de planificação, acção e reflexão.
Estão assim definidas as linhas directrizes subjacentes aos projectos de investigação-acção concebidos, implementados e avaliados no âmbito do nosso Grupo de Trabalho (familiarmente designado por GT-B).
Embora tratando temáticas diferentes e procurando encontrar soluções para variados problemas associados ao ensino/aprendizagem da compreensão na leitura, todos eles puseram em acção as três dimensões essenciais deste projecto: a educação em línguas, a interacção docência/formação/investigação e o trabalho colaborativo.
Assim, puseram à prova a nossa capacidade de co-reflectir sobre práticas de educação em línguas e co-construir estratégias e recursos que permitam fazer face aos problemas identificados, recorrendo ao capital de conhecimentos e competências de que o nosso grupo dispunha.
Também exigiram de nós que fôssemos capazes de co-analisar, de forma crítica, o contributo do trabalho desenvolvido para a nossa renovação como pessoas e profissionais, envolvendo-nos num contexto colaborativo e solidário e forçando-nos a assumir os mais variados papéis.